Padre Gelson



Padrinhos que não assumem seu papel evangelizador

Se os padrinhos de Batismo não assumem seus compromissos com o afilhado? É preciso batizar de novo?

No meu sacerdócio, tenho visto cenas que me encantam. Por exemplo, a alegria dos pais que trazem com orgulho seus filhos para batizarem. É bonito ver aquele casal: ela, todo cuidado e ternura, com o seu menino ou menina no colo; ele, todo orgulhoso, contemplando extasiado aquele presente de Deus. E eles estão ali, diante de mim, dizendo mais com os olhos e os gestos do que com palavras, que querem que aquele filho, aquela filha seja filho, filha de Deus pelo Batismo, filho, filha de Deus na ordem da graça, porque na ordem da natureza ele, ela já é. Ao lado daquele casal há um outro: marido e mulher ou não. Foram escolhidos pelos pais como padrinhos daquela criança. E eles têm razão para estarem orgulhosos. Eles receberam uma prova de apreço, de amizade, de carinho ao serem convidados para padrinhos. Daqueles pais eles ouviram a proposta: querem ser pai e mãe na fé do meu filho, da minha filha? Querem ser nossos "compadres", isto é, pai e mãe conosco? E o Batismo é feito. Os pais assumem o compromisso de educar na fé o novo cristão, a nova cristã.
Os padrinhos se comprometem em acompanhar a caminhada na fé do "afilhado ou afilhada". E lá vão eles embora, comemorar o novo nascimento, o nascimento na fé daquela criança. E a vida segue seu curso. Há aqueles que jamais se esquecerão do compromisso assumido. E a criança cresce recebendo lições de fé e amor de seus pais e padrinhos. Mas, é preciso falar nisso também, há aqueles pais e padrinhos que deram por encerrada a sua missão. E aquela criança que deveria ser educada como cristã, acabará por ser educada como pagã. Que pena! Há também aqueles pais que se esquecem dos compromissos assumidos. Mas os padrinhos, não! Estes agem como verdadeiros "pais na fé" e ensinam a criança a viver como Jesus mandou. E há aqueles pais que descobrem com amargura que não escolheram certo os padrinhos de seus filhos. Não escolheram certo porque os padrinhos não vivem a fé, não ligam para o afilhado, não são capazes de um gesto de carinho para aquele, aquela por cuja educação na fé se comprometeram.
Por causa dessa irresponsabilidade ou dos pais ou dos padrinhos, ou de todos, o batismo não perde o seu efeito. A semente da fé está plantada definitivamente no coração daquela criança. E mesmo que tudo possa conspirar contra a germinação, o crescimento e a frutificação daquela semente, o Pai do céu, o divino agricultor, pode fazê-la frutificar. Não se angustie, portanto, se seus compadres não ligam para o afilhado. O Batismo se recebe uma vez só na vida. E ele marca a nossa alma com um caráter, um selo indelével. A partir dele somos filhos de Deus para sempre. E aqui vai um conselho: Não é necessário batizar novamente, mas se você desejar, procure um casal que você quer bem, alguém de fé comprovada, e peça aos dois que aceitem ser seus compadres de coração, ajudando você e sua esposa a educarem seu filho na fé. E Deus abençoe você e sua família pela consciência cristã que estão revelando. Pensemos nisso e fiquemos na paz de Deus.
Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R



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A Igreja aceita realizar o casamento de quem se casou 



somente no civil e depois se separou?


Um dos grandes problemas atuais é a criação de crianças e jovens em famílias não estruturadas. Em muitas faltam as referências de virtudes e valores transmitidos, ensinados e praticados pelo relacionamento sadio entre pai, mãe e filhos. Hoje, muitos casais “se juntam” dizendo que se não der certo, irão separar. Esse tipo de pensamento ou de união impõe na consciência dos filhos um tipo de pensamento inseguro e sem perspectivas de futuro e de esperança. Anda-se muito no imprevisível, não no desejo de lutar para que tudo dê certo.
É bom compreender que há uma grande diferença entre casamento e matrimônio. Casamento caracteriza-se pela convivência pública e contínua de um homem e uma mulher sem laços religiosos. Casamento é realizado somente no civil, pois configura a união social entre duas pessoas.
Por outro lado, matrimonio é um sacramento, realizado na Igreja diante de Deus. Pelo matrimonio se faz a promessa de respeito e de amor até as ultimas consequências. Matrimonio tem como laço primordial o amor incondicional e a dimensão religiosa espiritual. Ele é, na verdade, a benção de Deus aos noivos, que diante Dele e da comunidade juram viver o amor, custe o que custar, nunca de modo provisório ou inseguro. Uma boa maneira de iniciar uma família bem estruturada é pelo matrimônio, não pelo simples casamento.
Muitas pessoas tem medo de assumir o sacramento do matrimonio porque vivem bem, sendo casadas somente no civil, e acreditam que podem continuar vivendo assim. Sem dúvida, podem, mas ainda falta esse momento sublime de chegar diante de Deus e assumir esse compromisso especial, jurando o amor duradouro em qualquer circunstância da vida. O sacramento do matrimonio passa pelo ato social, mas vai além do social e se torna um ato espiritual. Ele vai além da própria pessoa que o assume. É um momento lindo de promessas, compromissos e de reunir a família, os amigos e todos aqueles que apostam naquela promessa e compromisso.
O matrimonio, por ser um sacramento, é tomado pela Igreja como um ato único, ou seja, não se pode assumir duas vezes ou mais. Casou-se na Igreja é para sempre, a não ser que um dos cônjuges venha a falecer ou haja uma nulidade do casamento. Tal nulidade somente é dada mediante um processo realizado pela própria Igreja, que faz várias entrevistas com os envolvidos para saber se aquela união matrimonial foi válida ou não. Se houve o sacramento ou não. Desse modo, a Igreja pode anular ou não aquele ato. Depende de tudo o que foi observado no processo.
No caso da pergunta acima, pelo que deu para entender, certa pessoa casou-se no civil, mas nunca casou-se na Igreja e, estando casada no civil, separou-se. Separada encontrou outra pessoa e quer casar-se agora no civil e na Igreja com essa outra pessoa. Se for isso, para a Igreja, essa pessoa nunca contraiu o sacramento do matrimônio, e a Igreja aceitará o matrimonio sem problemas. Mas, isso só é possível se os papéis do primeiro casamento, feito somente no civil, já estiverem prontos e a união tenha sido desfeita pela lei civil.
Anota-se sobre os papéis do primeiro casamento estarem prontos porque o processo de matrimonio exigirá que os noivos já tenham efetuado o casamento no civil, ou pelo menos tenham a autorização para casamento. Se não tiverem essa autorização, ou certidão do casamento no civil, não poderão se casar na Igreja e receber o sacramento do matrimonio, a menos que tenham autorização escrita do bispo. Exige-se isso para que a pessoa não case na Igreja com uma pessoa e no civil com outra. Não se pode admitir duas uniões com pessoas diferentes. Caso contrário, haverá confusão no que diz respeito a todos os casamentos.

Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R

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O que significou o Concílio Vaticano II

Padre, li na internet que este ano de 2012 serão 50 anos do Concilio Vaticano II. Podes explicar melhor sobre esse Concilio?

O Concílio Vaticano II aconteceu entre 1962 e 1965. Foi o maior acontecimento eclesial do século XX. Foi um longo processo de reflexão onde a Igreja olhou para si mesma e tentou responder aos desafios da época Moderna. As reflexões e conclusões desse Concílio mostram que a Igreja precisava mudar suas atitudes e seu modo de ver o mundo. A partir dele a Igreja passa a viver um espírito de solidariedade e diálogo, de maior respeito às decisões comunitárias e confirma que a missão é de Deus para o mundo. Confirma-se desse modo que a Igreja é instrumento da missão, num sentido de missão vivida e testemunhada por todos.
Para entender a grandiosidade desse evento, é interessante observar os números e realizações acontecidas enquanto sua realização.
Em toda história da Igreja foram 21 Concílios: 9 na antiguidade (até 869); 11 na Idade Média (até 1545) e dois na Moderna (até hoje). Alguns teólogos dizem que são 22, ao afirmar que a assembleia de Jerusalém para resolver problemas entre cristãos judeus e cristãos gregos (Hb 15, 22-32) também foi um Concílio.
Dos participantes desse Concilio foram 2540 bispos tanto do Oriente como do Ocidente; 90 observadores convidados, pertencentes a 29 outras Igrejas; 40 auditores leigos; 480 teólogos das diversas linhas. Ao todo, 80 tomos de atas registraram as discussões, debates e votações.
Dezesseis documentos foram escritos durante o Concilio. Quatro são Constituições e expressam o núcleo fundamental da Igreja, da qual ela não pode se desviar nunca. Nove são Decretos que ajudam a Igreja a realizar melhor a sua missão no mundo. Três documentos são Declarações que se pautam inteiramente na Palavra de Deus e falam de situações que afetam a sociedade e a Igreja. Num resumo de todos os documentos produzidos, pode-se dizer que a Igreja nasce da Palavra de Deus, pela revelação divina; vive como Povo de Deus, sendo constituída de pessoas leigas, religiosos consagrados, presbíteros, bispos e todos os membros das Igrejas orientais; apresenta-se ao mundo de maneira dialogante e servidora; celebra a fé em Jesus pela liturgia e testemunho; cumpre sua missão em diversas tarefas: missão aos povos que não conhecem Jesus, em todos os contextos de educação, nos Meios de Comunicação, nas religiões não cristãs e na liberdade religiosa.
O Vaticano II também promoveu uma presença nova dos cristãos no mundo. Novas relações dentro e fora da Igreja foram estipuladas. Houve nova consciência de ser e de pertencer à Igreja. Novas atitudes eclesiais diante dos desafios. Nova espiritualidade, agora mais enraizada no Evangelho e na história. Novo estilo e novos métodos de trabalho pastoral e, finalmente, possibilidades de novas estruturas em todas as dimensões da Igreja.
Algo que não podemos esquecer é que o Vaticano II ainda não está completamente concluído, pois precisamos vive-lo cada vez mais intensamente para que suas decisões e resoluções sejam cada vez mais colocadas em prática e ele continue atuante.
Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R

Sobre a doação de Órgãos?

Gostaria de saber se é errado a gente doar órgãos. Uma coisa que me intriga é se o Espírito Santo habita em nós, quando doamos órgãos o que ele faz?

A doação de órgãos é um procedimento médico não mencionado de modo direto na Bíblia. Mas, podemos dizer que a história em que Deus põe Adão num sono profundo e retira dele uma costela formando a mulher (Eva) denota uma inspiração para a doação de órgãos. Adão doou um pedaço do seu corpo para que Eva vivesse. Deus deu ao homem a capacidade de pensar, inventar e ajudar pessoas, nunca condenou o progresso tecnológico e da medicina em si.
O ser humano pode usar sua capacidade imaginativa para o bem. Deus nos deu tal capacidade para salvar vidas. Doar para o benefício de outros é sempre bom (Atos 20, 35). Doar a vida para salvar outra é um elevado ato de amor (João 15, 13). Se a doação de algo pode salvar a vida do filho, qual o pai se recusaria? A forma da doação mais comum é doar órgão de alguém que morreu. A decisão de permitir tal doação pela família ou enquanto a pessoa estava viva é um ato de bondade e amor que beneficia o outro. O órgão que já não serve mais para a pessoa falecida ajuda outra. Se estivermos mortos e nosso coração puder bater em outro peito ou nossos olhos puderem ajudar outro a enxergar, certamente que seremos abençoados por Deus. Se não estivermos mortos e quisermos doar órgãos a alguém sem danos maiores a nossa saúde, também seremos abençoados.
Por isso, desde que seja feita nas normas éticas, a doação de órgãos não contraria a fé cristã, pois “Deus dá vida aos mortos e chama à existência o que antes não existia” (Rm 4,17). Todos aqueles que doam órgãos aos irmãos, doam um pouco do seu amor e permanecem sempre nesse amor, pois “o amor jamais acabará” (1Cor 13,8). O Catecismo da Igreja Católica afirma: “A doação gratuita de órgãos, após a morte, é legítima e pode ser meritória”. A encíclica Evangelium Vitae ensina: “merece particular apreço a doação de órgãos feita segundo normas eticamente aceitáveis para oferecer possibilidades de saúde e de vida a doentes, por vezes já sem esperança”.
Se Jesus deu sua própria vida por nós, não há duvida que Espírito Santo, que habita em nós, nos inspira a doar nossa vida a alguém que precisa, pois o Espírito fala de amor e não há maior prova de amor que doar a vida pelo outro.
Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R

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Porque às vezes não sinto nada quando rezo?

Todo dia é preciso rezar. Oração é conversar com Deus. É buscar fazer de Deus um referencial em tudo: na tristeza, na alegria, em todos os pequenos e grandes acontecimentos. Santo Afonso diz que a oração é uma grande arma que o ser humano tem, mas para que funcione é preciso praticá-la.
Erramos quando achamos que Deus se manifesta somente nos sentimentos. Muitos acham que esse relacionamento é sincero somente quando sentem algo na oração. Dizem ser hipocrisia rezar ou ir à igreja sem sentir nada, ou ir de má vontade. Há épocas da vida que nossa oração é intensa e sentimos seu amparo e sua presença. Mas, há momentos que ficamos com o coração frio e a cabeça distante. Almas santas, que vivem próximas de Deus também têm essas dificuldades, e durante longo tempo tiveram uma oração sem sentir nada, mas persistiram, porque, mesmo nada sentindo viram nisso a mão de Deus. Não é o sentir ou deixar de sentir que mede a tonalidade de nossa oração, sim a nossa perseverança nela. Santa Teresinha dizia: "Sinto que rezo o terço tão mal! Esforço-me em vão por meditar os mistérios do rosário, mas não consigo fixar a minha alma. Penso que a Rainha dos Céus, sendo minha Mãe, deve ver a minha boa vontade e contentar-se com isso".
É o caso da mãe, que acorda várias vezes na mesma noite, para acalmar o filho que chora. É provável que às três horas da madrugada sinta apenas sono, mas seu amor não deixou de ser real só por causa disso. O sacrifício e a perseverança são selos de garantia do amor. Às vezes Deus nos manda a secura na oração para provarmos melhor seu amor. Se perseverarmos, apesar de não sentir nada, provamos rezar não apenas por gosto pessoal, mas por amar a Deus.
Jesus fala no Evangelho de uma casa construída sobre a rocha, que de tão segura, suporta todo o tipo de problemas. A vida cristã precisa ser edificada sobre a oração sólida e estável, que se cumpre em todas as circunstâncias. Temos de substituir nossa preguiça pela disciplina de uma vida espiritual. Se assim for, veremos que a fidelidade trará de volta os sentimentos. Precisamos ter o cuidado de buscar em nossa oração o Deus das consolações e não as consolações de Deus.
Que nossa Mãe Maria, reze conosco e interceda por nós.
Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R


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Quais os significados do sinal da cruz?

Padre me intriga quando ver pessoas fazerem o sinal da cruz nos mais variados momentos. Em que situações o uso do sinal da cruz corresponde à orientação da Igreja?


Tal pergunta me fez lembrar os bons tempos em que a gente riscava na testa, na boca e no peito o sinal da cruz, enquanto ia dizendo: "Pelo sinal da santa cruz, livrai-nos, Deus, de todos os perigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Para o cristão, a cruz tem um significado muito grande. Ao morrer na cruz, Jesus realizou o seu maior gesto de amor pela humanidade. Por causa disso a cruz, que era um instrumento de morte, transformou-se em símbolo de vida.
Para São Paulo, a cruz tem uma importância fundamental na história da humanidade. Ela representa o ponto da teologia de São Paulo. O exemplo mais claro é o da comunidade de Corinto. Nesta, aconteciam frequentes escândalos e divisões comunitárias internas que feriam a unidade. Ali, Paulo apresenta como sublime sabedoria a força do Cristo Crucificado. A cruz, em razão de tudo que ela representa, é escândalo e loucura; Paulo afirma isso com uma força impressionante (1 Co 1, 18-23). Para ele a cruz é expressão do amor profundo de Deus e contradiz tudo que se acreditava naquela época. Crer num Deus que morre na cruz era algo inconcebível.É um novo modo de crer em Deus. Aceitar a cruz é mudar todo modo de pensar e para isso era preciso se converter.
Bem cedo, os cristãos começaram a venerar a cruz como sinal de vida e bênção. Podemos até dizer que ela ficou sendo o sinal distintivo dos cristãos. Os mártires da Igreja tomavam a cruz nos braços, antes de serem mortos por causa da fé. Grandes santos não se separavam da cruz e por isso muitos deles são representados com cruz nos braços. Nas estradas, a cruz indica onde morreu um cristão. Nos cemitérios, a cruz lembra que ali estão sepultados cristãos. Uma cruz bem no alto de uma construção indica que ali se reúnem cristãos para celebrarem sua fé. Carregamos a cruz no pescoço, e a penduramos na porta ou parede das casas, indicando o desejo de benção e proteção.
O Catecismo da Igreja Católica tem um parágrafo muito bonito sobre o sinal da cruz. Diz lá: "O cristão começa seu dia, suas orações e suas ações com o sinal da cruz, ‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém’. O batizado dedica a jornada à glória de Deus e invoca a graça do Salvador, que lhe possibilita agir no Espírito como filho do Pai. O sinal da cruz nos fortifica nas tentações e nas dificuldades".
Tal sinal pode ser usado nas mais variadas situações. Para iniciar uma celebração. Para santificar o dia que se inicia. Para santificar o repouso. No início ou fim das refeições. Como pedido de proteção, na hora do perigo. Como sinal da presença cristã no mundo. Alguns jogadores de futebol entram em campo, tocam o chão com a mão e fazem o sinal da cruz. O gesto é uma forma de pedir proteção contra acidentes, particularmente no caso do goleiro, para ficar livre dos gols indesejados. O importante é que o utilizemos com a consciência de que ele é sinal do cristão. Ser cristão é viver o espírito de Jesus, onde quer que andemos. Pela morte na cruz Jesus mostrou o quanto nos ama e, por isso, temos o compromisso de amar os outros também.
O importante é que nos utilizemos dele com a consciência de que pela sua morte na cruz Cristo garantiu a vida em plenitude para todos. Que nossa Mãe Maria, aquela que esteve o tempo todo ao pé da cruz de Jesus, nos ajude a perceber e a respeitar o grande e sagrado sinal da cruz. Mãe do Perpétuo Socorro; rogai por nós!
Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R
Missionário Redentorista


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Quando estou com raiva da Igreja

Qualquer pessoa tem o direito de ficar zangado. Mas, zangar-se nem sempre nos deixa em situação confortável. As palavras do filósofo Aristóteles trazem verdades consideráveis: “ficar zangado com a pessoa certa, no grau certo, na hora certa, pelo propósito certo, de modo certo, não é fácil”.
Não é fácil lidar com a raiva direcionada a outra pessoa, mas, o que fazer quando a gente se zanga com a Igreja? Há muitos motivos que nos levam a ficar zangados. Desses, destacamos alguns. O primeiro motivo, muito comum, é quando me zango com a Igreja porque estou zangado com Deus. É aquela situação em que no momento de uma tragédia pessoal, pessoas sentem-se desamparadas ou injustiçadas. Assim, brigam com Deus e acabam descontando na Igreja. Vingam-se da Igreja porque querem atingir a Deus.
O segundo motivo é que pessoas brigadas com a Igreja, muitas vezes, brigaram consigo mesmas. São aquelas que têm baixo auto-estima, não encaram bem seus sentimentos e brigam com todos, inclusive com uma instituição. Outras pessoas brigam com a Igreja porque não concordam com sua doutrina sentem-se desafiadas em suas opiniões. São as que dizem que a Igreja não pode ditar o que se deve fazer ou não. Casos de moral como aborto e outros são os que mais provocam esse tipo de motivo.
Há ainda as que brigam com a Igreja porque se zangaram ou se magoaram com um bispo, padre, ministro ou até mesmo o papa. Esquecem que membros da Igreja não são o todo da Igreja, mas apenas uma porção dela. Pessoas que brigam por esse motivo, esquecem que a Igreja é muito maior do que qualquer membro.
É preciso ter em mente que quando a Igreja falha em sua missão de solidariedade, de amor, compaixão ou deixa a injustiça entrar nela, então ela pode, com toda razão, ser questionada. Mas, dizer que brigou com a Igreja por causa de padres, freiras ou membros que atuam na Igreja não ajuda em nada. Zangar-se com alguns membros é diferente do que punir a Igreja toda. A melhor maneira de resolver essa situação é resolver a raiva com aqueles que estão envolvidos, não simplesmente abandonar tudo e fugir. Deixar a Igreja pode ser uma atitude não muito sábia, pois isso nos leva a aumentar a dor e o sofrimento e pode nos deixar isolados e sozinhos. Na hora da raiva, a honestidade é a melhor saída. Se formos nós que criamos esse “monstro” chamado raiva, também seremos nós a primeira vitima dele. Raiva é como veneno, quanto mais aumenta, mais envenenados ficamos. Nada melhor que a reconciliação. Ela é o antídoto contra a raiva.
Se formos ofendidos pela Igreja, nada melhor que perdoar a Igreja. Se ofendemos a Igreja, nada melhor que pedir perdão a ela. Podemos fazer isso de modo muito simples, dialogando com as pessoas envolvidas. Antes, é muito importante rezar. A oração nos coloca em contato com Deus, conosco mesmo e com os nossos mais profundos sentimentos. A oração nos leva a avaliar a raiva e a determinar o que fazer com ela. Deus, o protagonista de nossa oração, irá, do modo mais sábio possível, nos ajudar pela oração a entrar em contato com a raiva e fazer dela o que for melhor para nós. Pense nisso!
Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R


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Quem diz ter certeza de tudo, certamente, não tem certeza de nada. O filósofo Sócrates foi 


sábio ao dizer que só sabia que nada sabia, em outras palavras, para ele o saber humano é



 muito limitado. Quem diz saber tudo é mentiroso e mostra que sabe muito pouco. A 



morte, o mistério do ser humano, a fé, a mística e tantos outros são coisas que ainda não 



sabemos. Quem está aberto a mudar sua opinião sobre algo, mostra ser capaz de construir 



grandes coisas com sua sabedoria. Quem está fechado à opinião dos outros, mostra ser 



capaz de destruir com sua ignorância até mesmo as pequenas coisas. Pense nisso! 



(Pe. Gelson).




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Deus criou o mal?

Padre, meus amigos riram de mim quando disse que todos os males da humanidade foram causados por Adão e Eva quando comeram do fruto proibido. É isso mesmo? (Paulo)

Meu querido irmão, os primeiros capítulos da Bíblia, no livro do Genesis, narra esse episódio que você comenta. De fato, a cena da serpente tentando Eva a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal emprega uma linguagem figurada, como a que se usa em novelas ou poesias, mas, é através dessas imagens que a Bíblia nos oferece um ensinamento religioso muito profundo.

Por que existe tanto mal no mundo? Por que o ser humano vive a ambição, a inveja, a violência, etc.? Será que Deus é responsável por tudo isso? No início do Genesis já tinha ficado claro que tudo o que Deus criou é bom. Essa frase é repetida várias vezes, após cada dia da criação. Então, de onde vem a maldade humana com suas terríveis conseqüências?
Se Deus criou tudo, então, na lógica humana podemos dizer que ele também criou o mal. O profeta Isaias parece querer dizer isso: eu formo a luz e crio as trevas; sou o autor da paz e crio a desgraça. Eu, Javé, faço todas essas coisas (Is 45, 7). Com isso, alguns podem dizer que se Deus cria o mal, Ele é mal.
Mas, vamos usar de lógica e aprofundar nosso conhecimento para dizer que o calor não existe em si, pois ele é ausência do frio, assim como a escuridão é ausência de luz e a sede é ausência ou falta de água. Assim, tudo aquilo que não nos agrada e nos deixa desconfortável é ausência de algo que gostamos. Se gostássemos de tudo que existe no mundo, nunca saberíamos que aquilo que não gostamos existe. Certa vez ouvi uma conversa no ônibus que me deixou muito intrigado. Uma menina de doze anos viajava com outra de uns quinze anos que não tinha os dois braços. Ela havia nascido assim. A de doze anos lhe perguntou se não sentia falta dos braços. A mais velha respondeu: “não sei o que é braço, nunca tive, por isso não me fazem falta. Somente posso dizer me viro bem como sou”. A ausência dos braços não lhe incomodava, pois nunca os teve. Desse modo, Deus não fez o mal, pois o mal é somente ausência do bem. Deus é Bem e onde Ele não está, ali o mal impera. O mal é ausência da presença de Deus. Todo espaço onde Deus estiver presente o mal nunca irá reinar.
Podemos dizer então que o mal somente aparece onde há ausência de Deus, que é o Bem. A narração bíblica de Adão e Eva mostra que o ser humano, por querer estar somente com ele mesmo, sem a presença de Deus, produz a ausência divina e a presença do mal. O pecado é fazer com que a atitude seja desprovida do conselho de Deus; é produzir a ausência de Deus, e assim o mal impera.
É esta a grande lição da história do pecado de Adão e Eva. Ausentar Deus dos nossos caminhos é a causa da maldade no mundo. Adão e Eva, no início, viviam felizes junto de Deus. Ao serem expulsos do paraíso se ausentam da presença e chega o mal e o sofrimento. Mas, Deus não desiste do ser humano, e supera tudo, pois promete o retorno ao paraíso, a salvação, que é a presença constante de Deus e ausência eterna do mal.

Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R